Em todo lar que se preze e que esteja dentro das estatísticas de
moradias com saneamento básico, há um vaso sanitário. Muitas vezes, há também um outro objeto
que tem mais ou menos a mesma utilidade, o penico. Embora com quase a mesma
função, há algumas diferenças entre estes singulares objetos tão importantes
que, sem os quais, estaríamos fazendo as necessidades na rua ou no mato.
O vaso sanitário é um objeto costumeiramente usado para urinar e/ou
evacuar. Digo costumeiramente, pois é possível que seja usado como banco, no
caso de que alguém precise chorar escondido. Nestes casos, é somente ir ao banheiro, e pra não ficar sofrendo em
pé, sentar-se no retrete (como é conhecido em Portugal). O vaso sanitário, além
de ter este nome composto, também é conhecido como privada ou, vulgarmente, como trono. O termo privada creio que se usa porque quando se está sentado ou diante do mesmo se
está em privado, ou seja, a sós (salvo raras exceções dos exibicionistas). Já o vocábulo trono, não poderia afirmar com segurança, pois não são só os reis que fazem cocô, ou melhor,
“vão aos pés”. Talvez alguns indivíduos se sintam reis na hora de transformar o
abstrato em concreto, no entanto isso derivaria de significações individuais que levariam talvez a má resolução do complexo de Édipo. Interpretações a parte, desafortunadamente contata-se que ainda é um artigo de luxo
na casa de muitas pessoas, de modo que nem todos podem ter a oportunidade de
sentar-se confortavelmente e ler o jornal, um rótulo de shampoo ou a lista telefônica enquanto “descarregam”.
Na falta de um alvo e reluzente vaso sanitário, encontramos o também
chamado urinol ou bispote, ou tão somente: penico, objeto também destinado a abrigar as nossas “necessidades”. Entretanto, seu lugar de repouso não é no banheiro, e sim embaixo da cama. Geralmente é usado, salvo casos de extrema necessidade, para urinar, já que ninguém se
sentiria à vontade de permanecer deitado em uma cama em que sob ela há um penico
todo defecado... só de imaginar os maus odores... realmente seria desagradável. Os
penicos também possuem, em sua maioria, uma alça, para a hora em que tenhamos
que transportá-lo e despejá-lo, não haja a necessidade de pôr as mãos
diretamente nele. A alça nos protege de eventuais acidentes como derrubá-lo no
chão, na roupa ou mesmo no tapete do quarto ao levantá-lo do chão. Mas para aqueles que têm penicos sem alça, há uma vantagem: no inverno, muitas vezes, enquanto nos dirigimos ao toilette, a urina ainda conserva sua temperatura original e, colocando o bispote bem junto ao corpo, é possível manter-se abrigado do frio.
Uma vantagem para um, um transtorno para outro: o vaso
sanitário, por sua vez, não possui alça, visto que não há necessidade de carregá-lo para lado
nenhum, inclusive é ótimo que ele esteja sempre ali para os casos em que alguém
chegue apressado para usá-lo. Imagine que transtorno: chegar apertado e não
encontrar o vaso ali no seu lugarzinho de sempre... nesse momento teríamos que sair perguntando aos outros por onde anda o vaso sanitário, revelando assim a todos as
nossas intenções. Definitivamente, o melhor é que ele não tenha alça, assim nenhum
engraçadinho poderia ter a ideia de escondê-lo como forma de brincadeira ou de
maldade.
Os penicos foram criados para as damas e no início tinham a parte da
frente mais alta, para que estas não errassem o alvo. Já hoje o que é
objeto de preocupação é o fato de os homens não acertarem o alvo, mas isto no
vaso sanitário, o que nos mostra que a pontaria nesse momento tao íntimo sempre foi uma questão em
voga. E no que concerne a respingos, o penico não é o mais adequado para pessoas que
fazem “xixi” mais de uma vez à noite, visto que na segunda vez é possível ver-se gotejado em direção oposta a da gravidade pela quantidade de urina já existente no recipiente. Já no vaso sanitário
deveria ser diferente, pois sua altura é maior. Infelizmente percebemos,
principalmente as mulheres, que os homens às vezes cometem esses pequenos
deslizes ao deixarem o vaso repleto de pequenos globinhos líquidos, levando-nos à reflexão do porque eles não fazem xixi sentados.
Após analisados os dados aqui expostos, utilizando-se de critérios como utilidade e segurança, podemos perceber nitidamente
que o vaso se populariza, enquanto que o penico se extingue, virando peça de
museu (depois de lavado, é claro). Este último continua sendo usado apenas em
hospitais, na casa de quem desgraçadamente não tem acesso à benfeitorias sociais e nos lares de pessoas muito preguiçosas ou que têm medo do escuro, visto que não querem sair do quarto para urinar ou defecar. Embora não me pareça
agradável a idéia de ter um penico embaixo da cama, pior seria ter um vaso
sanitário no quarto quando se pensa no barulho que faz a descarga... e a
descarga, ah a descarga! Penico, vaso sanitário e descarga, uma indício mais de que a raça humana está em direção ao progresso e que dias melhores virão.