quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

De dibujos imposibles

Yo lloro con canciones, canciones de amor y de lucha. Canciones que vienen del alma, y van y vuelven de un alma a otra. Que se ahondan en mis recuerdos, revuelcan mis sentimientos, dan fuerzas a mis exigencias momentaneas, e explotan en lágrimas en mi cara.
Ya he llorando con muchas canciones. Algunas veces con pena de mí misma. Pero hoy lloré por pena de todo, pena de mí y de la gente. De este trabajo sin fin que es estar sintiendo todo. Lloré por mis amigos, por la gente que yo quiero y lucha conmigo. Por la persona que duerme a mi lado todas las noches, porque no les puedo ofrecer nada mejor que este mundo podrido.
No les puedo dibujar un arcoiris en la basura, no les puedo pintar un paisaje arriba del hambre. No les puedo hacer flotar mas allá de todas las incomprensiones, y brindar claridad a los que los rodean.
No puedo colorear la realidad de nadie, borrar todo el pasado/destino inglorio y feo.
No puedo traerles nada de eso, solo puedo darles la mano, ofrecer mi herida y sugerir que la compartan conmigo.






terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Explosão

Agora, aqui mesmo nesse momento, estou sentindo todas as dores do mundo. Todos os ódios, os descasos, as ignorâncias, as crueldades, os preconceitos, tudo está ao mesmo tempo (se sempre esteve), tudo amontoado, tudo de toda a gente, tudo desejando um próximo Big Bang. Uma explosão: Puuuuummmmm, e cada coisa toma o seu lugar. Cada coisa se coloca onde corresponde, se divide, se organiza, e sai como um cometa de mim.
Toda essa dor com gosto de grandeza, toda essa dor com cheiro de infinito. E então? Eu quero simbolizar toda essa bola desnivelada e mutante que aplasta minha alma. Esse novelo mal enrolado, que pouco a pouco se desfaz e só aumenta. Essa engronha, esse bolor, essa podridão que nasce todo o tempo, todo o tempo de todos os tempos. Todo esse mal que emana de dentro dos outros, todo esse esgoto das relações, toda coisa escondida e revelada, toda matéria e todo cartaz.
Toda essa desconsideração e esse mal-trato, esse ignorar sem limite, esse horizonte nefasto, esse futuro fracasso, e toda essa dor. Toda esse impotência e esse inalçancar de tudo, toda essa tentativa desesperada de consertar tudo o que jamais foi. Todos os séculos, todos os bilhões de anos de pura merda e de pura cegueira. Toda essa coisa que se chama vida, toda essa sujeira que se está produzindo e estão por produzir. Evitar? Como chegar no fundo? Como acender a luz? Como começar do princípio e apagar a memória? Por onde começar? Por onde eu começo a deslindar esse emaranhado? Onde quero chegar? Onde está exatamente toda essa angústia moral, esse não-mostrar, esse disfarce, onde começa? Onde termina? Termina? Essa coisa, esse troço, esse coisificação do indefinível. Essa imagem inventada, essa mentira incrivelmente construída de maneira tão claramente mentirosa. Onde está nossa culpa nisso tudo? Isso que mancha e não sai, isso que suja para parecer limpo, essa ignorância falsificada de sinceridade: ah, mas eu acho que sim. Vão pro diabo! “Eu acho que sim?! Porque sim?! Porque sempre foi assim?! Porque assim é melhor?! Vão pro diabo! Vocês sim, que tinham que armazenar com todo esse enxofre, vocês sim que tinham de sentir a invasão avassaladora dessa percepção do compasso de tudo. Vocês sim que tinham que juntar toda essa porcaria que espalham pela plenitude do espaço. Vocês sim que tinham que pagar pelo mal que vem fazendo e pelo bem roubado e vaidosamente, descaradamente e inescrupulosamente usufruído. Que ironia: aquele que destrói é o mesmo que não paga. Que ironia, eu aqui, juntando esses cacos, cortando a pele, rasgando as veias, que ironia eu aqui febril e incossolavelmente sozinha, arrancando os cabelos, espremendo o rosto entre as mãos, roçando a pele, mais e mais e mais e mais e mais. Presa, perdida, com toda essa coisa sem forma nas mãos, na cabeça, no corpo, com todo esse peso do universo inteiro no peito. Um peso sem medida, um peso invisível, uma antematéria, que –eu sei – já deixará de ser etéreo pra expandir, virar forma, conteúdo, conseqüência, sangue. Essa bobagem, a mais séria de todas, mais séria do que as coisas realmente sérias. Toda bobagem, quando levada a sério é mais importante do que qualquer coisa importante. Uma cacaria, um resto, um lixo, uma invenção absurda, uma vanidade e um despretígio. Aos poucos vai se tornando um ente, e se infiltra e fica, e se mostra, e toma conta. E onde se aloja? Por onde sanar?

Esta fala é sem fim e, tal qual o universo, se comprime e se expande. Se alarga e não se dissipa, visto que entende-se que este remorso é injustamente meu.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Conselhos para se viver bem até 2012

Você está lendo estas palavras. Enquanto passa os olhos até chegar exatamente neste ponto, você levou aproximadamente cinco segundos. Este tempo que você perdeu não voltará mais, nunca mais. Tudo isso porque você está morrendo e, além disso, sua vida está em risco: você pode deixar de existir a qualquer momento! Inclusive antes mesmo de ter chegado a sua hora. Tudo está escrito, está programado. Porém, a todo o momento, você está exposto ao acaso. Não será isso uma contradição? Destino e casualidade são difíceis de relacionar, não é mesmo? Mas deixemos estas questões de lado, porque você está perdendo mais alguns segundos preciosos da sua vida aí, passivo, lendo estas linhas. Na verdade espero que essas sejam as últimas linhas que você leia, porque, não esqueça nunca: você está morrendo!

Você está chegando ao fim de sua vida, ela está escapando de você lentamente. Sendo assim, você tem que aproveitar o pouco tempo que resta. Nunca se sabe quando você vai ser vítima de uma bala perdida, de um câncer, de um atentado terrorista, de um assassinato encomendado, etc, etc, etc. Porque você não sai agora mesmo e faz todas aquelas coisas que sempre teve vontade? Porque não sai por aí cantando bem alto na rua e entra no primeiro shopping e para comprar aquilo com que você sempre sonhou, mas você nunca teve a coragem de comprar? O que poderia ser? Uma TV de plasma gigante? Uma bolsa de grife que custa dez mil dólares? Quem sabe comprar aquele perfume que tem uma propaganda tão linda que te envolve e só te faz perceber  que é uma propaganda quando, no final, aparece o nome do perfume? Quem sabe um colar de esmeraldas? Quem sabe um carro, heim? Aquele vermelho ferrari, com um motor de mil cavalos, que faz você ir de zero a duzentos em cinco segundos? E depois disso, saia em alta velocidade por aí, saia a duzentos quilômetros por hora (afinal, você comprou esse carro pra quê?). Convide seus amigos pra viajar com você loucamente pelas estradas, completamente sem rumo pelos povoados do interior do país, rompendo regras e corações, saindo sem pagar de um restaurante, invadindo propriedades privadas pra roubar as roupas do varal, relacionando-se com pessoas comprometidas... que aventura! Abale as estruturas!

Sabe por que você deve fazer isso? Porque 2012 vem aí. O fim do mundo se aproxima! Você não pode permitir que o mundo se acabe sem deixar a sua marca nele. Em um momento tão crucial como este, você não pode se privar de nada. Você tem que mostrar pra todos que duvidaram de você que você pode brilhar. Abuse do seu magnetismo pessoal, abuse da sua sensualidade. Use roupas da moda e que realcem suas qualidades. Tons pastéis foram da estação passada, agora você tem que renovar seu guarda-roupa com a as cores vibrantes desta estação. Esqueça toda essa baboseira de sobriedade na vestimenta, essa tendência já acabou faz dois meses! Se ligue! Quando seus amigos virem seu novo look, vão ficar impressionados com sua elegância e você vai ganhar sua admiração. O seu vizinho? Ah, esse vai morrer de inveja de você! Vai se corroer todinho! Que sensação! Agora você pode sair por aí, cabelo ao vento. Desfilar pelas ruas, sem medo dos olhares dos outros, porque você está antenado, está descolado.

Mas não se esqueça, falta muito pouco para 2012, você não tem muito tempo. Você vai passar os últimos dias da sua vida com essa pele sem cor e com acne? Claro que não! Faça um tratamento de pele, compre o creme inovador daquela top model italiana: dê mais vida à sua vida. E esse corpo? Melhore a sua auto-estima, mude, mexa-se. Vá à academia todo o tempo que puder, coloque silicone, botox, fios de ouro, faça uma cirurgia reparadora, ame-se mais. As pessoas só vão amar você quando você puder se amar.

E por falar em amor, ame primeiro a você. Não faça coisas que você não quer. Não esteja disponível para as pessoas, elas vão abusar de você. Não seja bonzinho demais, seja mauzinho de vez em quando. Mostre seu lado diabinho, hot. Saiba esnobar, saiba ignorar, se faça de difícil. Invente que você está com a agenda cheia. Quando mais você for inacessível, mais as pessoas procurarão por você. Assim elas vão desejar muito mais estar na sua companhia e vão valorizar os poucos momentos que você lhes concede.

E quando estiver sozinho? Fique com você, aprenda a se dar bem consigo mesmo. Quando você descobrir os prazeres da solidão, já não fará falta a companhia de outros para se sentir feliz. A receita é a seguinte: chegue em casa, coloque uma roupa confortável, ligue para uma tele-entrega do seu restaurante preferido, sirva uma taça de vinho, sente-se no sofá, levante os pés e ligue a TV. Deixe seu pensamento voar, deixe que sua mente não se apegue a nenhuma informação, retenha apenas as imagens. Deixe-se levar pelas belas paisagens dos comerciais, pelos logotipos coloridos das empresas, pela expressão de satisfação dos atores, pela música que te comove. Tenho certeza de que você sentirá que todas as preocupações foram embora, você pensará que o mundo é lindo, ou melhor, talvez nem se dará conta de que existe um mundo lá fora. Esse exercício pode ser praticado todos os dias se você desejar.

Não se preocupe tanto com as pessoas. Muita gente escolheu estar na miséria, estar cometendo crimes, estar vivendo em lugares deploráveis e tendo um filho por ano. Você não tem culpa, tampouco responsabilidade pelo que acontece com os outros. Você não pode mudar o mundo, você pode apenas mudar seu mundo. Portanto, pensamento positivo, fé em Deus e pé na tábua.

Não perca tempo: cuide do seu corpo, compre o alimento mais caro, vá à academia mais cara, não meça esforços para modificar aquilo que não lhe agrada, mime-se. Mas nunca esqueça que a mudança começa de dentro pra fora, portanto tome dois litros de água por dia, no mínimo.

Reúna-se com seus amigos, não deixe pra amanhã a festa que você pode fazer hoje! Divirta-se, dance, ria, tome drinks, muitos drinks coloridos. Mas não se desgaste muito, lembre-se que você deve estar em perfeitas condições para curtir o after depois. Sendo a vida uma caixinha de surpresas, pode estar justamente lá o amor da sua vida, e você não vai querer não estar impecável ao encontrar o seu grande amor, não é?

Lembre-se sempre que sua existência está acabando, não leve mais desaforos pra casa! Não perca tempo pedindo explicações sobre as atitudes das pessoas. Não se deixe enganar e não deixe que os outros magoem você, mostre sua força interior. Se quiser gritar, grite! Se quiser dizer, diga! Diga tudo que pensa e vá embora, seguramente a opinião que essa pessoa tem sobre você e sobre as suas atitudes não lhe interessa.

Seja livre, mas se proteja. A todo o momento as pessoas más estão querendo derrubar você, ofuscar a sua luz. Em todos os lugares há pessoas invejosas, pessoas que não suportam o seu sucesso, ou o próprio fracasso. Cuide-se muito! Cuide seus bens, muito. Na sociedade atual, nunca se sabe quando vamos ser assaltados em plena luz do dia, ou quando vão invadir nosso lar e roubar aquilo que conseguimos com tanto trabalho e suor. Cuide-se dos ladrões, dos assassinos, dos psicopatas, dos estupradores, dos serial killers, dos sequestradores, dos ex-presidiários (dos presidiários nem se fala), dos mendigos, das crianças que pedem dinheiro nos semáforos, das pessoas mal-vestidas, dos favelados, dos desempregados, enfim, de toda e qualquer pessoa que possa parecer suspeita: coloque o dinheiro nas meias e no banco, leve apenas uma fotocopia dos seus documentos, atravesse a rua, saia correndo, grite, chame a polícia. E diante da dúvida, lembre-se que seu bem-estar (e principalmente sua vida) está sempre em primeiro lugar.

Cuide-se para ser livre! Seja livre pra usufruir de todas as coisas lindas deste mundo como carros, roupas, jóias, cruzeiros e tantas outras. Não feche seus olhos para o mundo de possibilidades que o aguarda. Mas não perca mais seu tempo lendo, não leia mais: mais ação e menos reflexão. Viva! Viva enquanto você está vivo, porque amanhã... nunca se sabe.


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O recôndito intelectual do fundo da caverna sombria

Em uma entrevista, Eduardo Galeano diz que os intelectuais são cabezas rodantes, ou seja, cabeças separadas do corpo, mentes que pensam sem sentir. O primeiro argumento para contradizê-lo é a definição do dicionário online Priberam:


intelectual 
adj.
1. Que é do domínio da inteligência.
2. Relativo à inteligência.
3. Espiritual.
s. 2 g.
4. Pessoa que tem gosto predominante pelas coisas do espírito.


Relativo à inteligência, espiritual, gosto predominante pelas coisas do espírito.
Penso de verdade se essa visão negativa que se tem acerca do que significa ser intelectual não está construída justamente para denegrir aqueles que se dedicam a pensar com o espírito e com a inteligência, aqueles que estão realmente ocupados em entender as coisas do mundo, todas as coisas, incluindo-se a inteligência, as emoções, as culturas, as imposições sociais, o status quo; e dispostos a refletir sobre uma melhor condição de existência.

E porque haveria essa degradação da imagem do pensador? Pelo simples fato de que convém para alguns que o saber não se dissipe. Convém que o saber seja mal falado, desprestigiado, visto que quanto menos um indivíduo sabe, mais suscetível está às  interpretações dos outros sobre o seu próprio universo. Delegar a outros a construção da nossa realidade subjetiva é uma tarefa muito perigosa para quem incumbe e muito vantajosa pra quem a efetua. Dominar a relação de um indivíduo com o seu entorno, é dominar suas opiniões e suas atitudes. E isso, interpretado tanto como maquiavelismo, quanto como ingenuidade, aniquila qualquer resquício de justiça social.

E como a imagem do saber é maculada? Muitos meios de comunicação vêm contribuindo através dos tempos para construir a imagem do intelectual como o anti-social, aquele que não pode sair de si, aquele que vive apenas de conhecimento e livros, aquele que está à margem, aquele desajustado, inadaptado, motivo de deboche, incapaz de ter uma relação amorosa, ausente, digno de pena, feio, suscetível a vícios, depravado, egoísta, desequilibrado, neurótico, infeliz; e muitas vezes aquele que se perdeu e distorceu a realidade. “Cuidado: pensar - e sobre tudo ler – enlouquece”. Dessa maneira foi sendo construída a idéia de que o conhecimento é necessário, no entanto é perigoso e, em demasia, faz mal e pode arruinar uma vida. Quantos personagens conhecemos assim? Cito apenas um, na realidade um estereótipo: o cientista maluco.

Pesquisando na Wikipédia em espanhol, encontrei estes nomes citados como intelectuais: Humbold, Goethe, Darwin, Marx, Dostoievsky, Nietzsche, Freud, José Martí, Horacio Quiroga, Gandhi, Einstein, Huxley, Virginia Woolf, Anton Chejov, Heidegger, Luckács, George Orwell, Pablo Neruda, Hannah Arendt, Eric Fromm, Bertolt Brecht, Claude Levi-Strauss, Jean Paul-Sartre, Simone de Beauvoir, Umberto Eco, Paulo Freire, Foucault, Lacan, Chomsky, Mario Benedetti, Ernesto Sábato, Milan Kundera, Carl Sagan, Richard Dawkins, Sthephen Hawking, Saramago, Edgar Morin, entre outros.

Não poderia concordar jamais que estes indivíduos foram ou são “cabeças que rodam”, corpos que falam sem vida. Muito pelo contrário, são corpos que falam precisamente de vida, da condição do homem, de conhecer através da reflexão e não da imposição. Não se vê neles a qualidade de seres perfeitos, nem seres reclusos com visões distorcidas do mundo. Se vê sim a luta contra os dogmas, os fundamentalismos, os preconceitos e a vontade de entender os vários processos aos quais estamos submetidos todo o tempo – sejam eles de ordem científica, comportamental, psíquica, social, etc. Além disso, nenhum deles se fechou em algum porão úmido e escuro querendo evitar a todo custo o contato humano; todos divulgaram amplamente suas idéias aos demais.

Umberto Eco, em uma entrevista a CGIL, central sindical italiana, fala um pouco sobre o que para ele significa ser intelectual:

“(...) se acontece de algum intelectual ser integrante de um partido político e não trabalhar em sua assessoria de imprensa, isso não tem nada a ver com seu papel específico na sociedade. Trata-se de um cidadão como qualquer outro, disposto a colocar suas habilidades profissionais a serviço do próprio grupo. É como um pedreiro que dedica o tempo livre a ajudar na reforma da sede do partido.
(...) acho que os intelectuais têm um dever adicional no caso de pertencer a um grupo - não devem falar contra os inimigos desse grupo (é para isso que servem os porta-vozes), mas contra os próprios companheiros. O intelectual tem de ser a consciência crítica do grupo. Ele existe para incomodar.”

Creio que os intelectuais existem para incomodar, essa me parece a melhor definição. Claro que precisamos fazer algumas ressalvas. Não basta incomodar, é preciso ter um propósito. O intelectual não é um perturbador sem causa, muito menos um oráculo que possui a verdade; o que ele possui é, antes de mais nada, uma pergunta. 
O intelectual é um agraciado que sofre com aquilo que conseguiu. É um mal quisto, um inoportuno, um crítico. Pra ele nada está bem ainda, ele é a insatisfação. O intelectual está sempre lutando para ser escutado por sempre ter uma questão que colocar.

Na verdade, o intelectual só recebe este título porque teve a sorte de poder aceder aos meios e aos mestres que puderam despertar essa inquietude crítica, esse olhar fino da realidade. O intelectual pode estar entusiasmado, mas nunca satisfeito. Pode estar decepcionado, mas não aniquilado. O intelectual tem um bichinho na cabeça que está sempre trabalhando, um diabinho que está sempre cutucando, uma dorzinha de descontentamento.

Um indivíduo chega a ser considerado intelectual da mesma maneira que um engenheiro chega a ser engenheiro, ou um padeiro chega a ser padeiro: com trabalho. O intelectual não nasce intelectual, ele renasce, ele se refaz. E pelo fato de ter adquirido essa qualidade analítica, tão importante que é, tem o dever de compartilhar com os demais suas idéias e argumentos, não só por colaborar com seu entorno, mas também porque faz parte da sua atividade e da constituição da sua própria condição: a constante exposição de seus conceitos e juízos para o exercício de reavaliação de suas crenças, a todo o momento.
Crença não seria a melhor palavra, por que um pensador deve ter muito poucas crenças. Não ter crenças não significa que não tenha objetivos e expectativas. Não ter crenças significa não ter fé; e ter fé significa afirmar resultados que não são passíveis de comprovação (e o que neste mundo seria, finalmente, passível de asseveração?). O exercício da inteligência depende de uma eterna dúvida e um desejo de pensar, adaptar, adentrar e reestruturar a realidade para um bem comum.

Um advogado pode saber bem de leis, um químico saber bem de remédios, um atleta saber bem de exercícios físicos. Já um intelectual sabe bem criticar e pensar.

Protesto contra, discordo de e repudio a visão de que os intelectuais são seres abomináveis. Os intelectuais fazem um trabalho muito importante para a sociedade; não só com seu próprio trabalho, mas também instruindo pessoas a terem a mesma capacidade reflexiva que eles desenvolveram através do seu trabalho - seja por meio de artigos, livros, palestras, aulas em universidades, pesquisas, entrevistas ou uma simples declaração a um meio de comunicação.

Por todos estes motivos, me parece que os intelectuais não deveriam nunca ter medo, vergonha ou rechaço à própria classe que os denomina e os identifica para acercar-se a eles. O adjetivo, antes de ser uma característica, é um meio que habilita a todos a chance de partilhar desse saber bem que eles sabem. 



São tudo uns poblemático

Eu quero mais é escrever agente vamos, agente fumos e agente iremos, assim, com agente bem juntinho, que é pragente ficar mais próximo e comessar a avançar unidos.
Quero que as pessoa se irritem com o os erro de portuguêis, quero que digam que é um absurdo, que lhes doem ozólho, ozovido, que seus dente vão tudo caí... quero, concerteza, que elas pensem que pra alguém escrever assim só pode ser por que é ingnorante.
Quero mais é que todo mundo critique e saiam às ruas protestando contra a corrupção da língua, contra os estrangeirismos, you know, contra todo esse linguajar vulgar dessagente que pensa que a língua é delas.
Quero ver bandeiras, granadas, tanques de guerra, trincheiras, todos divididos: de um lado aqueles que sabem falar; de outro os lascado. E depois quero me mijá de ri de ver as pessoa se separando, separando, até que voltamo à estaca zero: quem fala correto? Aondié quitá o referencial? Aondié quitá está a “pura-escência” da língua portuguesa?
Apartir do momento que todos se derem conta que não tem nadavê essa causa, que não existe nem nunca existirá essa separação entre melhor e pior portuguêis -seje por que entenderam que é uma luta de falsa consciência, seje porque entenderam que tudo muda- vamos estar podendo revolucionar a maneira de nos comunicar e vamos estar podendo valorizar  a comunicação em si.
Eu tô muito anciosa pra que derrepente as pessoa deixem de encomodar por causa dessa bobeira de defender uma língua que tem sua defesa na sua própria condição de objeto em processo de evolução.
No final das conta, oque eu não entendo, é porque as pessoa si esforção tanto em reprimir e não faz nenhum esforço pra entendê! 

sábado, 1 de outubro de 2011

8


Estamos sempre chegando, mas de costas pro mundo. 
É necessário observar. Não se trata de "enfrentar" a vida, porque essa palavra ( e palavras são tudo) sugere contrariedade, batalha, que por sua vez, sugere inimigo. 


É necessário olhar como uma criança encara o novo. É necessário manipular, ver de um lado, de outro, pensar nas infinitas possibilidades de cada instante.
Depois (e antes) é preciso resignar-se de que não há um "como", um "porquê", um “se”; porém sempre está o “enquanto”. Analisar o caos, isso sim, já que tudo é caos e -simultaneamente- previsível.

Tudo é o agora, o antes e o sempre. Tudo é fim e começo.
Tudo é tudo e nada, e ao mesmíssimo tempo.
Tudo é incompreensão, do começo ao fim. Tudo é um vazio completo que preenche e falta (e que desprovimento!).
Tudo está e não está. Tudo é e não é, tudo está sendo construído, aperfeiçoado, danificado, destruído, aniquilado, recriado... e ao mesmo tempo tudo sempre foi e sempre será.


Toda ingenuidade implica uma crueldade. E, inclusive, o inocente é absolutamente responsável de sua condição passiva e atuante.
Todo momento é uma efemeridade revolucionária.
Toda certeza é um erro, uma ilusão, e é perigosa.
Toda liberdade fica cerceada pelo medo da amplitude desmedida da mesma.
Toda palavra é vã, e sempre desvela -(in)voluntariamente- sua natureza individual e coletiva.
Todo discurso conecta para mudar nada além do que já estava em processo de mutação.
Toda a realidade é assombrosamente inexata.

O existir deveria ser a incoerente arte da afirmação e negação de um desconhecer definitivo e total.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Estranho

O medo do outro é fiasco. O meu tem causas e é perfeitamente explicável.
A vergonha do outro é uma bobagem. A minha está relacionada com episódios que me traumatizaram.
O controle do outro é obsessão. O meu é prevenção e cuidado.
As manias do outro são absurdas e motivo de deboche. As minhas tem razão de ser e, ou me são muito úteis, ou são engraçadas.
O outro não consegue se pôr no meu lugar. Eu consigo, o problema é que a atitude do outro não tem sentido.
O erro do outro é burrice. O meu é que “eu não sabia...”
O outro me machuca. Eu pensei primeiro em mim.
O outro não escuta. Eu sou insistente.
O outro não aprende nunca. Eu demoro um pouco pra internalizar.
O outro ignora. Eu desconheço.
O outro é chato. Eu sou exigente.
O outro é vagabundo. Eu preciso de férias.
O outro exagera. Eu extravaso.
O outro desrespeita. Eu, “mas também...”
O outro abandona. Eu vou atrás dos meus objetivos.
O outro é pegajoso. Eu preciso de amor.
O outro é mal-educado. Já eu, estou farto das pessoas.
O outro é boca-suja. Já eu, estou estressado.
O outro é barbeiro. Já eu, apenas me distraí.
O outro é relaxado. Já eu, estou com preguiça ou cansado.
O outro está fedendo. Eu não, só esqueci de pôr desodorante.
O inferno são os outros, diria Sartre. Já eu, eu sou muito justo.


quarta-feira, 20 de julho de 2011

Uma pergunta que anda dando voltas na minha cabeça

Alguém saberia me dizer o que significa "sentir-se culpado por desejar"? E por que alguém haveria de sentir-se culpado por desejar? E como isso surge? E de onde? E quais as consequências dessa culpa?

Preciso escrever sobre isso, mas primeiro tenho que entender o que significa... aiai, vivam essas esfinges que sabem como ocupar a cabeça da gente!
Se ninguém responder vou achar que é outro grande mistério da humanidade.

Um conto para uma tarde de inverno

Faz uns anos eu estava fazendo um seminário de criação literária. Tínhamos uma tarefa: escrever um conto sobre um cara que ia ao cassino, ficava rico e depois se matava! Uma tarefa difícil imaginar o que levaria uma pessoa a se suicidar diante da situação de euforia de ter ficado milionário. 
Então escrevi este conto.


Atrás da luz

Dar-me um tiro na cabeça seria o mesmo que não nascer.

            A incansável expectativa do início da vida me havia cansado. Portanto, nada mais restaria a um homem de coragem além de tomar uma atitude para a resolução daquilo que o angustia.
Andava eu sempre a cismar com a mesma frase “Eu também tenho o direito de estar aqui!”. Ao chegar à escola, porém, sentia-me extremamente indesejado ao ver no semblante dos estudantes a insatisfação pela minha insistência em pôr-me à frente e desatar a falar com o objetivo de compartilhar um saber tão inútil (e eles sabiam que esta também era minha concepção) que sequer podia fazer diferença àquele que, com voracidade e melancolia, abaixo de cafés e outros estimulantes, o havia adquirido com a vã ilusão de que algo podia, um dia, chegar a provocar-me o sentimento da borboleta ao sair do casulo que pode finalmente alçar primeiro voo em direção ao infinito, e percebê-lo infinito, e perceber-se infinita, e respirar e dar o primeiro grito e, só então, planejar e atuar.
Mas não.
A pistola de meu pai me mirava há muito desde as profundezas do armário. Pistola da qual eu deveria ter orgulho, bem como deveria ter tido orgulho de meu velho pai, que se foi sem que pudesse constatar este sentimento em mim, embora me investigasse diariamente, desde a escolha das minhas palavras, até o jeito como eu passava a mão nos cabelos. Então, pela primeira vez, esta pistola-auxílio poderia esperar de mim orgulho, investigando o movimento de acanhamento do meu dedo indicador.
A luz brilha. Independente do que está ao seu redor a luz brilha. E não importa, se colocares o tecido mais negro ao seu redor, no fundo a luz brilha. Queria eu fulgurar como a luz. Quem não tem luz pode viver na escuridão ou humilhar-se e colocar-se sorrateiramente próximo a ela, sugando-a e rogando para que ela não perceba sua presença. Foi assim que adentrei o Cassino Postrero.
Comprovemos então que dinheiro não vale nada. Incomodava-me a idéia de ainda possuir uma nota de cinco no bolso. Não era uma viagem, nem um terno, nem um vinho, nem uma refeição. Todavia, ainda eram cinco. A arma no bolso esquerdo de meu casaco surrado fazia-o ficar mais baixo de um lado que de outro, causando-me um desconforto no pescoço e dando-me uma sensação de assimetria, portanto, resolvi livrar-me logo da nota.
-         Preto 23, tudo.
Talvez tenha sido o girar da roleta, senti uma breve náusea e voltei os meus olhos para dentro. Na meia volta eu ouvi: - Preto 23 e vi o crupier, de cabeça baixa, empurrando fichas para diante de mim. Antes havia algo a perder, agora havia trinta e seis vezes algo a perder. Assim, sucessivamente, fui escolhendo números ao acaso e apostando. Ganhei todas as vezes. Percebi a ironia e, enquanto ganhava mais uma vez, avistei uma primorosa mesa ao fundo. Sentados nela, três cavalheiros muito bem vestidos e belas damas como suas espectadoras. Supus que necessitavam de um último integrante para o jogo de pocker, levantei-me e fui até lá. Quando me acerquei, tive a impressão de que os cavalheiros já me haviam visto na outra mesa, ou que já havíamos nos conhecido em alguma situação da qual eu não estava lembrado. Sentei-me e pude perceber o quanto estava cansado, pois a cadeira afagou-me e remediou a dor que sentia nos joelhos. Sorri. Ao pegar minhas cartas, passei a mão sobre a toalha macia de veludo. Ao erguer os olhos, percebi que, inclusive eu, tinha uma torcedora. Estava à frente, sentada em um sofá com as outras damas. Era jovem, alva, de cabelos longos e louros, seus olhos brilhavam tanto quanto o colar de esmeraldas que levava ao pescoço. Os cavalheiros, ao perceberem o olhar entusiasmado da jovem sobre mim, olharam-me e sorriram. Ganhei novamente. Os cavalheiros se surpreenderam e parabenizaram-me cordialmente. A jovem sorriu e seu sorriso era a luz. Sorri também e ela corou.
Pensei que talvez, por educação, os cavalheiros tivessem deixado que eu ganhasse. Sendo assim, examinei de um modo discreto a parte detrás das cartas a fim de saber se não estavam marcadas. Não havia qualquer marca no desenho requintado. A parte detrás das cartas continha a figura de um rei, pintado em tons de vermelho e detalhes em dourado. O garçom, simpaticamente, nos serviu uma bebida. Ganhei. Para esta próxima partida, eu e os cavalheiros resolvemos arriscar-nos. Diante da expectativa das damas, que agora encontravam-se ao redor da mesa muito eufóricas, resolvemos fazer uma aposta que chamamos de ‘tudo ou nada’. Foi um jogo extremamente tenso, no qual, todos nós, respeitosamente, estávamos torcendo, cada um para si. Mais uma vez ganhei. Nas feições da jovem, ao mesmo tempo que alegria, apreensão. Já eu, surpreso, abri um largo sorriso. Associei o desviar dos seus olhos ao meu sorriso, será que não havia gostado dos meus dentes? Neste momento, me dei conta de como estava vestido, comparando-me aos demais cavalheiros presentes ali. Baixei o olhar e vi minhas unhas, sujas, tortas. Pensei em como estariam os meus cabelos, tentei imaginar mas não pude, pois há muito que não me olhava no espelho para analisar-me detenidamente.
Vi uma cadeira ser puxada para o meu lado, era ela. Quando sentou-se senti seu perfume delicado, pensei em como devia eu de estar cheirando. Tive vergonha de mim por estar tão contrastante com as pessoas dali. Inclusive o garçom, que agora vinha me parabenizar e me servir mais uma bebida, estava melhor trajado do que eu. Foi quando a jovem colocou sua mão sobre a minha e sorriu. Seus dentes, um pouco amarelados, mostraram-se e então dei-me conta de que usava batom vermelho, cor que destoava do ar angelical que demostrava. Ela pegou minha mão e disse que eu não precisava ficar encabulado, pois ali eu era como um deles. Os cavalheiros entreolharam-se sorrindo, talvez rindo, do que havia dito a moça que agora contemplava fixamente as grandes pilhas de fichas ganhadas por mim.
Pedi outra bebida ao garçom que respondeu: - Claro, o senhor é quem manda!, seguido de risos atrás dos leques das outras damas. Eu estava milionário. Um aperto e uma lembrança de que, no passado, a cada humilhação, pensava eu que se tivesse muito dinheiro haveriam de me respeitar.
Ouviram-se gritos e vi o rosto das damas, tão angelicais outrora, agora desfigurados de horror. Os cavalheiros levantaram-se rapidamente e, sem a intenção de fazê-lo, derrubaram a mesa cheia de fichas, cartas e dinheiro. Devido à agitação e ao barulho, os outros jogadores do cassino notaram a movimentação. Houve correria e alguns homens fortes tentaram correr em minha direção.
“Os nossos olhos estão sempre embebidos de uma realidade falsa. Não posso afirmar que este não seja apenas mais um desses momentos. Contudo, conheço apenas uma realidade binária, o vencedor e o perdedor, a riqueza e a pobreza, a ilusão e a realidade, a vida e a morte. Eis aqui, pois, o momento da última descoberta.”

sábado, 9 de julho de 2011

O porquê?

Resolvi colocar esse nome no blog porque adoro a música Águas de Marco. Acho que a letra quer falar sobre começos e finais, que todo começo é um final e todo final é um começo.... coisas do ciclo da vida. 
Eu gosto especialmente da parte que diz: 


É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã



Este verso fala do projeto da casa, ou seja, das ideias, dos sonhos. Depois vem o corpo na cama, o fim do sonho, porque ele simplesmente fica de lado. Depois o carro enguiçado, o imprevisto. A lama: o fundo do poço. Depois um passo, logo uma ponte: o novo início. Um sapo ou uma rã? A dúvida. Um resto de mato, resquícios do que foi. A luz da manhã, a esperança. 


Tenho um milhão de interpretações sobre essa música: a esperança, o fracasso, o inevitável, a vitória, a luta de sempre, etc, etc, etc.
Acho que é um bom nome para um blog, muito abrangente. Acho que é um bom nome pra qualquer coisa, até teria uma gata que poderia se chamar Éachuvachovendo... e então quando eu estivesse dormindo e ouvisse algum barulho em outro cômodo da casa, poderia pensar "ah, não é nada, é só a chuva chovendo, ou Éachuvachovendo. Acho que o ser humano ficaria mais relaxado e deixaria a vida acontecer de maneira mais tranquila se tivesse alguma coisa (que faca algum ruído, claro) que se chamasse assim. 
Olha só, recém comecei a escrever e já tenho uma primeira ideia para mudar o mundo!
... é a luz da manhã, é o tijolo chegando...