Entro no
quarto, e desde a porta o vejo deitado ali na cama, tão distraído com seus
brinquedos. As bochechas rosadas, a roupa que comprei. Percebe a minha
presença, candidamente ri. Faz-me um gesto, creio que me chama para que me
aproxime. Deito-me ao seu lado. Estende-me os braços e o pego, o protejo, o
cuido. Sinto a felicidade de seu corpo, sua inquietação. Tenho que vestir-me,
abro o armário, ele vem engatinhando atrás de mim. Me segura pelas pernas, me
chama. Vejo que ele precisa de mim.
Sentado do lado
esquerdo da cama, de frente para o guarda-roupa, com ela em meus braços.
Acaricio sua pelezinha, delicada. Os olhinhos quase se fechando, de repente um
sorriso. Olho-me no espelho do roupeiro, e a ela também, tão pequenina, tão
indefesa. Levanto-me e caminho pelo quarto. Dou a volta na cama e paro em
frente à janela, bailando com ela. Olhamos os dois este futuro que nos é
desafiador e estimulante. Canto pra ela. Seu corpinho tão leve, a embalo. Contra
mim a aperto, um perfume adocicado, fecho os olhos. Abraço-a, beijo-a,
admiro-a.
Quando Maria
e João se conheceram, foram morar juntos. Eles preencheram alguns espaços
dentro do outro. Na sua intimidade, eles brincam de ser aquilo que lhes faltava.